setembro 15, 2010
Postado por juliana
Senhor Provedor,
Ao cumprimentá-lo, gostaria de agradecer pelos seus questionamentos feitos no programa Conversa de Fim de Tarde, na RCCFM, do último dia 09. Foi a primeira oportunidade que tive de conhecer seus pensamentos a respeito do Serviço de Hemodiálise da Santa Casa e a parceria que possuímos.
Em primeiro lugar um pouco de história. Sem conhecê-la fica difícil formar uma opinião correta.
Por três vezes fui chamado pelo Hospital para auxiliar no tratamento dos pacientes portadores de insuficiência renal.
A primeira foi em 1977, pelo paciente Miguelzinho Severo e seu médico, Diretor do Hospital, Dr. Angelo Aguiar. Nesta data eu terminava minha pós- graduação no Instituto de Cardiologia em Porto Alegre, onde conheci o Miguelzinho. O convite foi feito para coordenar o serviço de hemodiálise além de montar e coordenar o funcionamento da UTI de Santana do Livramento.
Vale lembrar que esses serviços, naquela época, praticamente inexistiam no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Fomos pioneiros.
A segunda foi em 1989, pelo Dr. Nilo Padilha, provedor do Hospital. A Santa Casa havia fechado o serviço de Hemodiálise e a comunidade (representada pelo Lyons ou Rotary, não lembro bem) desejava reabri-lo.
A terceira foi em 2004 pelo Sr. Leonel Amorety Gornatti, administrador do Hospital que desejava ver terminado o investimento que havíamos iniciado na Santa Casa e que, por motivos alheios a nossa vontade, estava suspenso.
Nosso último contrato com o Hospital não prevê aluguel. E a razão é muito simples. As obrigações da Cardio Nefroclínica vão muito além:
1. Custear a construção do moderno prédio, propriedade do Hospital, com qualidade e segurança reconhecidas.
2. Permanecer disponível para, com equipe especializada, dialisar os pacientes agudos na UTI ou nas enfermarias, sem custo de espécie alguma para o Hospital.
3. Trabalhar para viabilizar o transplante no Hospital e um serviço ambulatorial de Prevenção.
Veja Provedor, são obrigações muito mais importantes e onerosas que um simples aluguel.
Fica claro que não houve nenhuma benesse, muito menos facilidades ou negócio obscuro e dúbio como referido. É uma parceria clara, normatizada por contrato registrado em cartório, portanto, público.
A terceira e última obrigação depende da vontade da Administração do Hospital, se ela persistir, vamos juntos remontar a UTI e torná-la novamente referência no estado. Será o marco inicial para obteremos a complexidade e os serviços que almejamos.
Isso não será possível com divisões. É necessário trabalhar pela união de toda a comunidade em torno desse projeto.
Para isso devemos evitar atitudes que dividem. Motivo pelo qual não posso concordar com a busca do Poder Judiciário nesse momento, recurso que deveria estar reservado para a última e não primeira instância, pelo custo, pela demora pela energia desperdiçada e principalmente pela divisão que provoca!
Por último, Provedor, a motivação!
Que motivação faz um médico desativar sua clínica de atendimento privado em Cardiologia para assumir uma empresa com quarenta funcionários, atendendo SUS e a Santa Casa com plantão permanente? Alguma dificuldade em descobrir? Pois eu lhe digo:
Foi a dor sentida na alma e no coração ao ver seus pacientes encaminhados para Porto Alegre para receber o tratamento sem o qual não poderiam viver! Foi a vontade de trazê-los de volta Senhor Provedor, foi o sentimento médico.
Sem mágoas, permaneço a disposição da Santa Casa. Ela é o instrumento que possuímos para honrar nosso juramento de bem cuidar das pessoas.
Atenciosamente,
João José Freitas
Diretor Geral da Cardio Nefroclínica